O papado de Leão XIV, eleito nesta quinta-feira (8) no Vaticano, terá impacto direto nos próximos anos em algumas das principais arquidioceses da Igreja Católica no Brasil. Em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, e em Aparecida, principal ponto de peregrinação católica do país, arcebispos estão prestes a se aposentar, o que significa que indicações de novos arcebispos serão feitas em breve pelo novo Papa.
Além de concentrarem grande número de fiéis, essas arquidioceses também têm forte impacto pastoral e simbólico para católicos do Brasil.
O cardeal americano Robert Prevost, agora papa Leão XIV, liderava desde 2023 o Dicastério para os Bispos no pontificado anterior, órgão responsável justamente por assessorar o papa na escolha de novos bispos.
Durante sua gestão, valorizou líderes com perfil pastoral e próximos das comunidades, alinhados à visão social de Francisco. Sua experiência missionária na América Latina sugere que ele poderá manter a mesma abordagem nas nomeações para o Brasil.
Na Igreja, a nomeação de arcebispos é uma prerrogativa exclusiva do papa. Conforme o Código de Direito Canônico, os bispos devem apresentar sua renúncia ao completar 75 anos. Cabe ao pontífice decidir se aceita a renúncia de imediato ou se opta pela permanência do arcebispo por mais algum tempo.
No caso de São Paulo, o cardeal Odilo Pedro Scherer completou 75 anos em setembro de 2024 e apresentou sua carta de renúncia ao papa Francisco, conforme previsto. No entanto, Francisco solicitou que ele permanecesse no cargo até 2026. O novo papa poderá decidir manter essa continuidade ou promover uma mudança mais imediata na liderança.
A arquidiocese de São Paulo é a maior do Brasil e uma das maiores do mundo, com mais de 5 milhões de fiéis. Durante seu período à frente da arquidiocese, Dom Odilo consolidou uma presença pastoral voltada para o diálogo ecumênico e para temas sociais. A escolha de seu sucessor terá impacto significativo na dinâmica pastoral da região e na atuação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), já que o arcebispo paulistano tradicionalmente exerce papel de destaque no colegiado episcopal.
Em Aparecida, o atual arcebispo, Dom Orlando Brandes, está no cargo desde 2017 e completou 79 anos. O Código de Direito Canônico prevê a renúncia obrigatória aos 75, mas o papa Francisco autorizou sua permanência até completar 80 anos, em 2026. O Santuário Nacional, localizado na arquidiocese, é o maior centro de peregrinação católica do Brasil, recebendo milhões de visitantes anualmente.
A escolha de um novo arcebispo para Aparecida terá implicações diretas na gestão de eventos religiosos de grande porte, como a Festa da Padroeira. O perfil do novo líder poderá indicar tanto a continuidade da abordagem de Dom Orlando quanto a possibilidade de uma postura diferente. O atual arcebispo tem uma abordagem considerada progressista e já sofreu diversas críticas por politização da Igreja.
No Rio de Janeiro, o cardeal Orani João Tempesta completará 75 anos em junho de 2025 e deverá apresentar sua carta de renúncia ao novo pontífice. Dom Orani é conhecido por uma atuação conciliadora e aberta ao diálogo com as diferentes visões dentro da Igreja.
Escolhas do papa terão impacto direto na CNBB
A nomeação que será feita pelo papa Leão XIV de arcebispos dessas três arquidioceses também tem impacto na representação brasileira no Colégio Cardinalício. Historicamente, os arcebispos de São Paulo e Rio de Janeiro são criados cardeais, garantindo participação nos conclaves futuros. Leão XIV poderá manter essa tradição ou optar por uma nova abordagem nas escolhas.
Durante o pontificado de Francisco, algumas nomeações episcopais no Brasil refletiram uma atenção maior a regiões periféricas e áreas com problemas sociais graves. A nomeação de Dom Leonardo Steiner para arcebispo de Manaus, em 2019, e sua posterior criação como cardeal em 2022, foi um exemplo disso.
O impacto das escolhas para Rio, São Paulo e Aparecida vai além do contexto local. A escolha dos novos arcebispos terá implicações na configuração da CNBB, já que as lideranças dessas arquidioceses tradicionalmente ocupam posições de influência no colegiado episcopal. O perfil dos novos líderes poderá fortalecer tanto a atuação social da Igreja quanto a ênfase na formação doutrinária e espiritual, dependendo das decisões de Leão XIV.
Nos últimos anos, a CNBB tem mantido uma postura de ênfase em temas sociais. A escolha dos novos arcebispos pode consolidar essa linha ou sinalizar um redirecionamento, dependendo do perfil pastoral que o novo pontífice preferir.
Ao longo do pontificado de Francisco, a busca por bispos próximos das comunidades foi uma marca nas nomeações para arquidioceses importantes. Desde 2023, o papa Leão XIV era o principal assessor de Francisco nessas escolhas, o que sugere uma tendência de continuidade.
Fonte ==> Gazeta do Povo e Notícias ao Minuto